Pedra fria 9 maio, 2009
Posted by Alysson Amorim in Fragmentos, Teologia.Tags: Teologia
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Nenhum ponto final é mais definitivo que o anúncio da felicidade eterna. A vida só pode permanecer enquanto a felicidade for uma promessa distante ou uma arca perdida ou ainda uma assumida impossibilidade, como no poeta argentino Almafuerte, para quem “a felicidade humana não entrou nos desígnios de Deus”.
O suicídio da narrativa ocorre quando ela presenteia seus personagens com uma felicidade inalterável. Deus, ao talhar a pedra fria e soprar-lhe as narinas, fez a lança cair irresistível no peito de Abel.
As múltiplas variações do Éden, espiritualistas e materialistas, devem existir apenas como projetos ainda distantes ou objetos perdidos ou mentiras deslavadas. Se o projeto é definitivamente alcançado ou o objeto encontrado ou a mentira desbancada como um erro de interpretação, então o homem volta a ser uma eternamente feliz pedra fria.
Alysson, esses teus golpes me assustam – um susto cuja sensação é semelhante à do ciúme ou à do perigo da trilha íngreme: um incômodo que se quer ter e que é agradável. Ôxe! Igual o fato de a gente querer não ser completo, de querer a felicidade como um sol existente, inalcançável, mortal, mas necessário nas lonjuras. Penso que você deve ser incompleto mesmo, se não nem escreveria, né?
Nunca esqueci a estória de sua avó, sobre a cigana e a tentativa de agarrar a galinha d’angola.
É verdade que a humanidade corre atrás do vento. Felicidade plena e condição humana, são realidades incompatíveis. O que temos, são pequenos momentos que geralmente desprezamos, iludidos que na próxima curva, encontraremos um pódium de chegada e só nele a premiação.
Feliz de quem consegue contemplar o pouso singelo de uma borboleta, ou se encanta com um beija-flor. Assim é a felicidade.
Momentos breves que logo deixam de ser, mas que deixam sua marquinha de contentamento na lembrança. Nada é definitivo aqui nesse lugar.
beijo
Tô com a Janete: a felicidade é um momento fugaz. Cabe-nos a tarefa de amealhá-los com carinho e fazer deles uma coleção de lembranças de instantes felizes.
Melhor isto do que pedra fria, né?
Fui reler o post e na verdade o causo era história e da tia. 😀
Rubens, pena que essa habilidade de reconhecer boas oportunidades, vem com a maturidade, quando já desperdiçamos um monte deles.